Por Dr. Ary Wanderley de Carvalho Júnior
Ginecologista. Membro da Sociedade Goiana de Ginecologia e Obstetrícia. Membro da Sociedade Brasileira de Endometriose. Médico do Corpo Clínico do Hospital Israelita Albert Einstein – Goiânia. Área de atuação – Cirurgia Minimamente Invasiva – Robótica – Endometriose.
Março amarelo é o mês de conscientização da endometriose, que é uma doença benigna, crônica e inflamatória, que acomete a mulher em sua vida reprodutiva, podendo causar dor e infertilidade. Estima-se que 10% das mulheres em idade reprodutiva são acometidas pela doença. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a endometriose afeta 176 milhões de mulheres em todo o mundo e mais de 7 milhões de mulheres no Brasil.
É uma doença que é causada pela presença de um tecido semelhante ao endométrio (tecido que reveste a cavidade uterina) em outras partes da pelve e do corpo. O endométrio, sob o estímulo de estrogênio e progesterona, sofre alterações durante o ciclo menstrual e, não ocorrendo uma gestação, a mulher menstrua. O tecido endometrial que existe fora da cavidade uterina (tecido endometrial ectópico), por sua semelhança com o tecido endometrial, teria também uma resposta muito parecida a ação do estrogênio e progesterona, espessando ao longo do ciclo menstrual e sangrando caso não ocorra uma gestação.
Portanto, o tecido endometrial ectópico, que define a endometriose, gera um processo inflamatório crônico, causando dor, aderências e alterações na anatomia dos órgãos pélvicos.
Estima-se que 80% das mulheres com endometriose apresentam sintomas (dor). Os principais sintomas são dor em cólica no período menstrual (dismenorréia), dor durante a relação sexual (dispareunia), dor ao evacuar (disquesia), dor pélvica fora do período menstrual, dor ao urinar (disúria) e dificuldade para engravidar (infertilidade). Nas mulheres sem sintomas (20% das mulheres com endometriose), muitas vezes, o diagnóstico da doença é feito ao se investigar a causa de infertilidade. É bom destacar que o percentual de mulheres com endometriose que poderão ter infertilidade, com ou sem sintomas, é de aproximadamente 50%.
A suspeita da doença é feita pelos sintomas (dor) e/ou infertilidade e o diagnóstico é realizado através do exame físico e exames de imagem (mapeamentos através da ressonância magnética e ultrassonografia – ambos com preparo intestinal). O diagnóstico cirúrgico, pela laparoscopia diagnóstica, não é mais o padrão ouro, ficando indicado para os casos de pacientes com sintomas, sem evidências da doença pelos exames de imagem e sem resposta ao tratamento clínico empírico.
Feito o diagnóstico da doença, o tratamento poderá ser clínico ou cirúrgico. Inicialmente tenta-se fazer o tratamento clínico, baseado em uma dieta anti-inflamatória e antioxidante, atividade física, controle do peso, fisioterapia, psicoterapia, uso de analgésicos e anti-inflamatórios e o tratamento hormonal.
O tratamento cirúrgico deverá ser feito nos casos de risco de oclusão intestinal, risco de obstrução de vias urinárias, lesões em ceco, apêndice e delgado terminal e grandes tumorações ovarianas. Ainda, nos casos em que há falha no tratamento clínico, com persistência dos sintomas (dor), e em alguns casos de infertilidade.
Por fim, valorizar os sintomas (dor) e conhecer à história familiar (outros casos de endometriose na família) pode contribuir para o diagnóstico precoce, permitindo melhor controle da doença, aumento da qualidade de vida da mulher e a possibilidade de diminuir os casos de infertilidade.